domingo, 5 de dezembro de 2010

O QUE FEZ O Cientista Carlos Souza, de 43 anos?

Quem é o cientista brasileiro que ensinou o gigante de buscas a acompanhar o desmatamento no mundo.

Carlos Souza, na floresta. Ele criou um sistema para monitorar, por satélite, os primeiros sinais de desmatamento.

A rotina profissional do cientista Carlos Souza, de 43 anos, é indecifrável para grande parte dos mortais. Seu escritório em Belém, no Pará, é repleto de computadores com telas grandes, que estampam mapas coloridos e imagens feitas por satélites. Suas conversas diárias com a equipe giram em torno de siglas incompreensíveis – como SAD e Prodes (dois sistemas de monitoramento por satélite). Desse mundo enigmático saiu a base de uma ferramenta crucial para o futuro das florestas. Ela é capaz de detectar os primeiros sinais de desmatamento nos mais remotos territórios da Amazônia. Até a semana passada, a plataforma estava disponível só para o Brasil. Graças a uma parceria entre Souza e o gigante de internet Google, países de todo o planeta vão poder vigiar suas reservas florestais. “É uma tecnologia nacional em prol da conservação no mundo”, afirma Tasso Azevedo, consultor do Ministério do Meio Ambiente.


O Google Earth Engine, como é chamada a plataforma, funciona como uma espécie de camada do Google Earth, a ferramenta que usa imagens de satélite para mapear a Terra. Baseia-se em 25 anos de dados coletados pelo Landsat, a maior série de satélites em órbita no Universo. O usuário entra na internet e digita o lugar e o período de interesse. Em segundos, o programa apresenta uma espécie de fotografia da área, inclusive do naco de floresta derrubada. Uma das ideias com o sistema é criar um ambiente virtual que permita aos leigos fazer análises do desmatamento de maneira colaborativa – uma rede social de monitoramentos. Hoje, o monitoramento por satélites é feito por dois centros: o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), do qual Souza é pesquisador sênior, e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Mas as informações ficam restritas aos cientistas. Com o Google, qualquer pessoa vai poder se tornar fiscal de florestas. E o tempo de análise de dados vai ser reduzido.

Souza começou a vigiar as florestas por acaso. Formado em geologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), sonhava em se especializar em prospecção de petróleo, um combustível fóssil poluente. Até que foi apresentado por um amigo aos criadores do Imazon. A conversa fluiu, e ele acabou enveredando para as causas ambientais. “Se não tivesse conhecido o Imazon, provavelmente estaria na prospecção do pré-sal.”

A parceria com o Google brotou em junho de 2008 do que Souza chama de “uma conversa de elevador”. Ele estava em Brasília para um workshop do Google sobre monitoramento de terras indígenas e puxou papo com Rebecca Moore, cientista da computação e gerente do Google. O resultado das conversas, a versão final do Google Earth Engine, foi lançado na quinta-feira passada em Cancún, no México, no encontro das 194 nações que tentam chegar a um acordo para conter o aquecimento do planeta. A data não poderia ser mais apropriada. Não há como chegar a uma solução para clima sem discutir a preservação das florestas tropicais. Árvores em fase de crescimento tiram da atmosfera o carbono, um dos gases que esquentam o planeta. Quando derrubadas, elas liberam os gases estocados. E o sistema criado por Souza (e endossado pelo Google) permite aos países combater com mais agilidade o desmatamento.

A derrubada de florestas já é responsável por 17% do total de emissões globais de gases do efeito estufa. Os negociadores do clima precisam aprovar um mecanismo que permita aos países ricos compensar as nações que reduzam o desmate. É a Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, ou Redd. A conversa estava emperrada porque as nações ricas alegavam que as pobres não dispunham de uma ferramenta transparente, isenta e eficaz para comprovar a queda do desmatamento. Era verdade. Só o Brasil contava com a tecnologia de monitoramento. Com o lançamento do Google, a desculpa não faz mais sentido. “Já viramos a página do gargalo técnico”, afirma Souza. “A questão agora é política.”

http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI192907-15227,00-O+GOOGLE+ACHOU+A+FLORESTA.html
Aline Ribeiro

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