domingo, 23 de outubro de 2011

GODOY ESCREVEU SOBRE O TERROR. muito bom

Uma pequena contribuição aos amigos que já passaram ou irão passar por isso...

Há certos divisores de águas na vida de um homem dos quais não se esquece: A visão furtiva de um belo seio rosado por uma blusa entreaberta, a cruzada de pernas desavisada da menina mais bonita do colégio, o primeiro guiar de um carro, a primeira trepada, a sensação da primeira dose de whisky, o primeiro charuto, a primeira “dedada”. “Dedada”!? É, a primeira “dedada”; aquele momento trágico em que o terror do câncer de próstata nos remete as masmorras sádicas do consultório urológico. Exagero? Somente se você nunca passou por isso meu caro...
Esta experiência nos faz pensar. Lembro-me que quando criança o mundo no século XXI propalado pelos “jetsons” era muito mais divertido e com tecnologia muito mais avançada que a temos hoje. Ok, vá lá, há muita liberdade poética nos desenhos animados, mas, na essência, realmente há de se concordar que o ser humano evoluiu bastante. As viagens espaciais e a pesquisa científica interplanetária são uma realidade; as fossas abissais, com todos os seus mistérios, já quase vieram à tona; a incipiente pesquisa com células-tronco; as maravilhas da clonagem. Será que meu clone poderia tomar “A dedada” no meu lugar!? Esta é a pergunta que não quer calar: porque em um mundo tão avançado tecnologicamente “A dedada” se faz tão presente na medicina?
Chegamos, desta feita, à mesa do bar. Cerveja gelada, a companhia dos amigos, a cruzada de pernas desavisada da periguete da mesa ao lado, e, ainda assim, a questão anterior afronta meus neurônios. Várias teorias são levantadas, algumas impublicáveis, outras desarrazoadas como o grau alcoólico daquele que a proferiu, mas uma teoria há de vingar: Existe uma sociedade secreta milenar formada por urologistas sádicos e terroristas que se divertem com “A dedada” - nos pacientes, é claro! Estes pervertidos impedem, sabotam, dificultam, destroem os laboratórios, desviam os fundos e rasgam qualquer trabalho ou publicação científica que afasta os dedos deles dos nossos fiofós... verdade... é a única explicação plausível para tamanho atraso e crueldade.
Com estas idéias na cabeça e, avisado por alguns amigos mais velhos que já estão na sua segunda ou terceira “dedada”, e, tentando evitar o caos, fui à consulta munido de um exame de PSA e uma foto em altíssima resolução da minha próstata tirada por um moderno equipamento de ultrassonografia. Exames extremamente normais, diga-se de passagem. Pensei orgulhoso! “Estou salvo”! Ledo engano! Papo vai, papo vem, aquela conversa mole pra boi dormir e o médico, mais direto que um cruzado de esquerda do Mike Tyson me sai com esta: “Vamos fazer o exame de toque?” Tentei argumentar: “mas doutor, veja minha idade, ainda estou longe disso! Além do mais, os exames que lhe apresentei estão absolutamente normais”. Réplica do médico (Já calçando as luvas) “Não é bem assim, o exame de PSA é apenas um indicativo e a ultrassonografia é apenas uma foto”. Tenho certeza que na cabeça dele de chapeleiro maluco perpassou o pensamento “eu quero conhecer sua próstata ao vivo!!” Relutei. Juro que relutei. “Mas doutor, os exames não são confiáveis?” Tréplica do Bin Laden. “São, mas equipamento nenhum no mundo é tão sensível quanto à ponta dos dedos! Temos bilhões de terminações nervosas neles!” Disse isso com um sorriso psicótico e admirando os próprios dedos. Juro que deu vontade de mandá-lo enfiá-los, cheios de terminações nervosas, no próprio rabo. Vá lá, a educação prevaleceu...
Negociações à parte, chegou o momento fatídico. Posição de mulher em exame ginecológico (passei a admirar mais as mulheres pela elegância com que se submetem a isso!), luvas calçadas, cueca arriada, o médico - igual à criança em parque de diversões - pega uma latinha, lambreca o dedo médio em movimentos circulares em uma pasta escorregadia e, quase num sussurro, tenta me acalmar: “o segredo é não contrair a musculatura.” “hen, táqueuspáriu!!”, penso eu; penso uma pinóia. No momento seguinte minha alma sai do meu corpo. Eu sabia que assistir a tantos filmes de terror e suspense um dia daria nisso. Segundo os esotéricos, vivenciei uma experiência de projeção astral ou quase-morte. Juro que estava levitando e me vendo naquela situação ridícula. Tentei amaldiçoar todas as gerações daquele filho-da-puta, mas, por incrível que pareça, a única coisa que veio à mente foi a Dilma Rousseff e a lorota do PAC. Cinco eternos segundos. Segundo o gênio da física, Albert Einstein, em sua Teoria da Relatividade “Ponha sua mão em um forno quente por um minuto, e ele parecerá uma hora. Assente-se com um bela garota por uma hora, e ela parecerá um minuto. Isto é relatividade.” Está aí um exercício prático para entender física quântica - faça a porra deste exame e você saberá exatamente o que é relatividade. “Pronto, terminou! Você tem a próstata linda!” elogiou o médico. Confesso que até agora estou sem palavras...
Depois de tudo isso, fácil é avaliar meu estado de espírito. Cheguei em casa puto da vida e louco por um banho, como se as águas tratadas do Lago Paranoá tivessem o poder de lavar todas as impressões desta infeliz experiência. Ledo engano; na hora de lavar “as partes baixas” descobri que aquela pasta escorregadia era uma vaselina de oitava categoria, que eu não usaria sequer para untar os pólos da bateria do meu carro, quiçá para o uso fisiológico. “Filho-de-uma-puta” - murmuro cada sílaba como se fosse parte de uma oração. Quarenta minutos depois finalmente consegui retornar as partes baixas ao seu status quo ante. Escrever foi a única maneira de exorcizar a vontade de dar um tiro no dedão do pé (do, médico é óbvio).
Após este episódio não me resta concentração para muita coisa hoje não. Os estudos, só vou retomá-los amanhã. Nada me faria tão bem hoje quanto uma boa dose de Jack Daniels, a companhia dos amigos e, quem sabe, uma bela cruzada de pernas da ninfeta desavisada na mesa ao lado. Quanto ao médico, minhas próximas férias já estão marcadas: a aldeia de Souvenance, no nordeste do Haiti, a capital do vodu. Podem ter certeza que espetos de churrasco serão pequenos para minha vingança...

Godoy

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